quarta-feira

Os posts da Floresta Xadrez serão suspensos por um tempo.
O Sr. GloomCester está se aprimorando para dar mais qualidade para seus leitores.

Voltaremos com surpresas.
Obrigado a todos :*

sábado

I never want to act my age...

Ouço pessoas ao meu redor me cumprimentando. Sorrisos, desejos de boa sorte e parabéns. "Feliz aniversário, feliz aniversário". Sinto orgulho no meu peito: 18 anos é uma idade importante. E agora cheguei nela.
Diante de mim tem um mundo inteiro. Um mundo de gente adulta. Aqui, não acreditam em contos de fadas. Aqui, os monstros são a fome, a miséria, a crueldade. Não há mais tanto espaço para meu terror, para minhas histórias, para minha imaginação. Começo a murchar.
Diante de mim está um mundo que pedirá maturidade. Um mundo que não acredita no amor eterno, verdadeiro, gigantesco. Amor aqui, morre, acaba. É coisa simples. Diante de mim está um mundo que pede que eu seja um adulto. Um homem sério. Não posso mais sonhar tão alto. Não posso mais mudar o mundo. Agora tenho que me contentar com uma coisa. Uma única, mísera coisa que eu em particular nunca vi tanta graça: A realidade.
Que outra conclusão eu chegaria? Acabou a festa. Crescemos e ficamos pessimistas, chatos, céticos.
Precisa mesmo ser assim? Preciso mesmo ser forçado a acreditar que o impossível nunca acontecerá, que agora o jogo acabou de vez, que minha vida nunca será tão grande quanto eu esperei?
Não, não preciso. Eu ainda acredito no impossível. Ainda acredito nos contos de fadas. Agora, eles só estão mais sutis, mas ainda estão lá, nos pequenos detalhes. Ainda acredito no amor, aquele eterno e poderoso. Apenas entendo agora que amor assim só acontece uma vez, e que muitas vezes teremos que usar até a força que não temos para lutar para ele acontecer. E seremos felizes.
As coisas podem não acabar tão grandes quanto esperávamos. Mas não significa que não podem ser grandes. Como disse antes, eu acredito no impossível. Ainda prefiro acordar todos os dias acreditando que algo impossível irá acontecer. E no fim, eu saberei que aconteceu, mesmo sem ter visto nada: Eu vivi mais um dia, feliz, leve e sonhador, ao invés de me curvar perante ao que as 'leis absolutas' dizem o que vai ou não acontecer.
Eu sorrio para todos, agradeço pelo apoio. Sei que muito virá agora, mais escolhas, mais decisões que terei que fazer sozinho. Mas agora sinto uma centelha de coragem no peito.
Por que levar tudo... Tão a sério?

I took her out, it was a Friday night

I wore cologne to get the feeling right
We started making out, and she took off my pants
But then I turned on the TV

[Chorus]
And thats about the time she walked away from me
Nobody likes you when you're 23
And are still more amused by TV shows
What the hell is ADD?
My friends say I should act my age
Whats my age again?
Whats my age again?

And later on, on the drive home
I called her mom from a pay phone
I said I was the cops
And your husbands in jail
This state looks down on sodomy

[Chorus]
And thats about the time that bitch hung up on me
Nobody likes you when you're 23,
And are still more amused by prank phone calls,
What the hell is call ID?
My friends say I should act my age
Whats my age again?
whats my age again?

[Chorus]
And thats about the time she walked away from me
Nobody likes you when you're 23
And you still act like you're in Freshman year
What the hell is wrong with me?
My friends say I should act my age
Whats my age again?
(whats my age again?)

And thats about the time that she broke up with me
No one should take themselves so seriously
With many years ahead to fall in line
Why would you wish that on me?
I never want to act my age
Whats my age again?
whats my age again?

whats my age again?

(What's My Age Again? - Blink 182)

quinta-feira

Monstruosidades...

Black & Red (Dan)

Eu tenho algo pra te contar,
espero que assim você entenda
você tem se afogado de ciúmes por causa de outra
mas como você não entende?
meu coração sempre será seu
e meu sentimento todo esse tempo nunca mudou
você tem medo dela
e agora você está sofrendo com isso, amor
isso não pode continuar, isso não pode continuar.

Acabou
Sim, isso é verdade.
Mas foi um episódio negro e você não teve escolha
fez tudo isso por me amar
e para me proteger.
Amor, não tenho como falar o quanto meu romance sonha.
E agora rio baixinho
por você sequer pensar
que corre o risco de perder meu coração pra outra.
eu escrevo cartas românticas
e agora sua voz não sai da minha cabeça,
Pode voltar segura, eu nunca deixei de ser seu,
Eu nunca deixei de ser seu.

Agora há uma bonequinha comigo,
Esperamos seu beijo,
Esperamos seu beijo,

Desista de pensar que eu partirei,
Não há lugar para eu ir que não seja sem você.

quarta-feira

Brinquedos Afiados...

Sala de Espera.
Não era nada do que ele esperava.
A sala era irregular. A clara impressão é que as paredes tinham tamanhos diferentes. No teto, uma luz esverdeada pintava todas as paredes que deviam ser brancas; agora, além de ter uma tonalidade de menta, também tinham marcas de mão e sujeira. O chão era quadriculado de branco e preto, como um tabuleiro. Na parede à esquerda da porta de entrada e da escada, estava o balcão, e sobre ele se debruçava a recepcionista.
- Senhor?
Gaston hesitou por um momento, então desceu a escadinha timidamente.
Sentou numa cadeira de frente para o balcão, então a recepcionista voltou a lixar as unhas. Era loira e de maquiagem borrada. Seu batom era vermelho-maçã engordurado. Ela encarou-o por mais alguns momentos, então voltou a se concentrar nas suas unhas como se abandonasse friamente um cachorro para morrer.
Gaston achava que fora indicado ao lugar errado quando viu que o consultório era no subsolo. E agora, estava hipnotizado de ver como o lugar era... Exótico. Ao lado direito da escada, tinha uma escultura de um cavalo de xadrez que ele deixara de notar quando entrou. Os cantos das paredes estavam repletos de gigantescas teias de aranha. Gaston começou a imaginar o tamanho de suas fiandeiras.
Um som rouco, seco e alto de tosse o puxou de volta. Gaston olhou assustado. Ao lado direito do balcão, sentado em outra cadeira, um homem levava a mão à boca. Era corcunda, careca e com olhos amarelos com profundas olheiras. Quando sorriu, Gaston pôde ver dentes podres em sua boca. Desviou os olhos para fugir daquela imagem.
Ao lado do corcunda tinha um sujeito enorme, uma mistura de músculos, gordura e altura. Seus olhos eram arregalados e fixos no nada, absolutamente sem piscar. Na verdade, seu corpo inteiro não se mexia. Atravessando sua cabeça, ele tinha um cutelo. Devia ser um boneco, uma figura inexpressiva deixada na cadeira.
Gaston olhou pelo rabo do olho para as cadeiras à sua direita e na da ponta, avistou um sujeito curioso. Era baixo, calvo com cabelos brancos e a cabeça em forma de lâmpada. Seus olhos eram frenéticos, quase saindo das olheiras buscando incansavelmente algo. Vestia uma camisa branca e luvas pretas de tecido.
Entre Gaston e o baixinho tinha uma mulher que tremia compulsivamente. Usava um vestido vermelho e preto e estava encharcada. Da cabeça aos pés descalços, pingava dela gotas frias. Seus olhos estavam desesperados, mas não pareciam estar ali. Ela balbuciava apesar dos dentes batendo: "Podre... Maçã... Eu..."
Uma lâmpada vermelha acendeu no balcão. A recepcionista apertou um botão no que parecia um velho gravador e o manteve ali.
- Ela está entrando
- Não - Respondeu uma voz radializada - Eu quero ver... ELE...
Ela olhou para Gaston por cima de óculos invisíveis enquanto tirava o dedo do aparelho.
- O Doutor Maciére quer vê-lo, querido.
Gaston levantou num pulo.
- T-Tudo bem - Respondeu ele, gaguejando.
Cada passo que ele dava era mais pesado. Gaston sentia cada par de olhos - Amarelos, arregalados, frenéticos e desesperados - encarando seus movimentos desajeitados conforme ele avançava desajeitado pela sala. Ele podia ver todos eles se levantando ao mesmo tempo para agarrá-lo, separá-lo em pedaços e espalhá-lo pelo chão.
A portinha de madeira, com uma placa torta escrita "Dr. Maciére". Gaston girou a maçaneta, entrou e fechou a porta com alívio de ninguém ter levantado para atacá-lo.
O doutor estava de pé. Era um sujeito gentil. Tinha cabelos desfiados, densas olheiras e vestia uma camisa branca, com mangas rasgadas e espirros de sangue. Ele juntava as mãos pelas pontas dos dedos sujos de tinta preta.
- Olá Gaston - Falou o Doutor com sua voz simpaticamente rouca - Gostaria de se deitar? - Ele ofereceu, gesticulando para o divã cor de vinho atrás de si.
Gaston enrubesceu.
- Não tenha medo - Insistiu o Doutor com um sorriso - Só quero entender a sua cabeça... Por que não começa contando sua história?...

segunda-feira

Monstruosidades...

Pesadelos.
De todos os tipos e formas, vindos fruto da realidade ou da ficção, de monstros de nossa infância ou futuro hipotético. Vejo os pensamentos como tentáculos negros, que nos agarram em seu mundo quando nos vemos em um deles, e ficam nos puxando de volta mesmo quando acordamos.
Acho fascinante tudo isso.
Gostaria de contratar pesadelos como meus aliados. Tenho certeza que são sujeitos muito inteligentes ou muito pirados por conseguirem trazer o terror usando apenas uma mistura de memórias, medos e acontecimentos hipotéticos.

Tesouras Cegas...

Boa noite a todos!
Faz tempo que não posto nada aki, pretendo mudar isso essa semana!
Quero só fazer um comentário pra toda a galera q ta ajudando: acessando, lendo, comentando e interagindo e incentivando! Valeuz MESMO pra todos vcs! Se eu deixo de postar, é pq não considero q esteja bom o suficiente pra vcs lerem, quero qualidade pra todos os q acessam aqui!
Só não sejam tímidos!
Comentem a vontade, perguntem, sugiram!
Se estiverem com preguiça, podem só votar tb, é só clicar 8D
Vcs q tão me ajudando, valeuz mesmo, mais uma vez! Continuarei fazendo isso por vcs ;]
Se gostarem de algum em especial, me avisem...
E voltem sempre para mais novidades do nosso mundo grotesco ;]

Mas vamos ao que interessa:

Estilos

Faz tempo q vejo pessoas adotando um 'estilo' em comum e defenderem esse estilo até a morte. Usando subtipos musicais como exemplo: heavy metal, punk, pop, emo...
Faz tempo q vejo pessoas vestindo um 'estilo' em comum. Porque? Bom, elas tem todo o direito de achar interessante, se identificar com ele. Mas acho perigoso pessoas que começam a perder a individualidade por causa disso.
Pra mim, não ha nada mais artistico do que uma pessoa ter um estilo próprio. Claro, não existe nada TOTALMENTE original, afinal, todos somos influenciados por nossos idolos e coisas ao nosso redor que nos atraem. No entanto, o jeito que somos é uma estranha mistura de nós mesmos com pessoas que influenciam/influenciaram nossa vida. Por que o resto haveria de ser diferente?
Roupas, música, arte, o que for! Tudo o que fazemos tem que ter um toque nosso; certas influencias aparecerão, mas é preciso que NÓS sejamos dominantes, não OS OUTROS.
Portanto, pare de esconder o que você gosta, pare de tentar ser quem você não é! Admita tudo o que você gosta, misture tudo com quem você realmente é e logo terá o seu próprio estilo!
Será aquela pessoa que em qualquer lugar que deixar uma marca, as pessoas entenderão que foi você que passou, reconhecerão sua marca de cara.
Escolha cores que você gosta e que combinem; vista roupas que você se orgulha de ter e lembre-se de comprar mais dessas da próxima vez; não viva em função dos outros, mas viva transformando os outros com aquilo que VOCÊ tem para oferecer.
Acima de tudo, lembre-se que pessoas não são produtos; não se pode classifica-las por suas mais importantes caracteristicas. Não é por uma banda, um estilo de cabelo, uma cor na roupa que devemos julgar o estilo da pessoa; ela pode ter as mesmas influencias que você!
Se certas pessoas se afastarem assim que você mostrar seu verdadeiro gosto, deixe-as. Pessoas que gostam de você de verdade, gostarão independentemente do seu estilo.

quinta-feira

Brinquedos Afiados...

Quando as Lanternas se apagarem - Parte Final


Edward cuspiu um pouco de sangue que se juntara na sua boca, e em seguida abriu um sorriso. O grande Edward, aquele sujeito que sobrevivera desde os primeiros dias da infestação; frio, preciso, militarmente quieto. Outro sorriso, dessa vez, remetente à uma lembrança. 'Se algum dia eu puder escolher como vai ser minha última visão nessa vida, quero que seja o pôr-do-sol'. Irônico. A Infestação não tornara o pôr-do-sol impossível; na verdade, os dias eram iguais aos de antes. Iguais? Talvez não... Edward mal se lembrava como eram os dias de antes. Lembrava que tinham paz, que podiam deitar-se em suas camas todas as noites para longas horas de sono, sem medo do escuro. Dinheiro era a única coisa que movia o mundo, e era possível encontrar pessoas em todos os lugares.

Depois da Infestação, tudo isso mudou: Sobrevivência era a única coisa que os movia; encontrar outras pessoas aos poucos parecia impossível; e o escuro era o que mais temiam. Edward entendera isso rápido, e logo se adaptou ao mundo. Viveu cada um desses dias confiante em suas habilidades esperando viver para uma reviravolta do amanhã ou morrer vendo o pôr-do-sol.

Nenhum dos dois aconteceria.

Edward começou a ouvir os urros que vinha da rua. Mais urros. Os últimos foram baleados pelas pessoas que ele amava, e era para salvá-las que ele estava ali.

Passos começaram a correr na rua em direção ao supermercado, e Edward olhou, com um sorriso esperançoso, a granada em sua mão.

Não eram mais poucos passos. Eram dezenas. E logo, passaram para centenas. Todos famintos, correndo para seu objetivo: carne fresca e indefesa; Edward. Ele apenas esperava. Não estava ansioso, pois sabia como tudo acabaria. Apenas se perguntava como seria do outro lado; será que lá ele encontraria outras pessoas? O seu pôr-do-sol que não receberia agora? De uma maneira, estava feliz, pois estava dando chance para quem ele amava.

Isso era um motivo nobre para morrer.

Quando as centenas de passos invadiram a rua do supermercado, avançando metros na corrida, Edward soltou o pino da granada.

- Boa sorte, meus amigos - Sussurrou ele com o último sorriso no rosto.


Correndo na estrada, a kilômetros da cidade, Eva e Joseph ouviram a explosão. Seus rostos estavam úmidos de lágrimas.


- Joseph! - Gritou Eva - Cobertura!

Joseph metralhou mais dois e foi para o lado de Eva, enquanto ela trocava as munições das suas submetralhadoras Uzi. Como tantos podiam ser atraídos de uma única vez? Eram centenas, que avançavam pela estrada, pelas montanhas e pelos carros. Vinham de todas as direções. A situação rapidamente se tornava assustadora: se fossem cercados, seria o fim.

Joseph avistou um grande número se aproximando. Metralhou mais um na cabeça, então soltou o pino e lançou uma granada. A explosão lançou pedaços de carne morta e sangue

coagulado por toda a estrada. Eva recarregou as submetralhadoras a tempo de balear três que se aproximavam pelo flanco direito. Joseph virou o corpo e abriu fogo contra mais quatro que avançavam por trás deles; Eva subiu em um dos carros, atirou em mais dois nas pernas, abriu furos na cabeça de mais um...

E então ela o viu.

Seus olhos se arregalaram, o terror afogou suas palavras. Perderam-se por alguns segundos em seu estômago, antes de voltarem á tona num ataque de pânico, gritando por Joseph.

- Não posso agora, Eva! - Respondeu Joseph acertando mais dois que chegavam a menos de dois metros dele.

- Joseph! É um gigante! - Gritou Eva

Todos os músculos de Joseph travaram como se todos os seus vasos sanguíneos tivessem congelado. Quando os zumbis simples já eram motivo para pânico, a Infestação também trouxe mutações em alguns, distorcendo seus músculos e moldando-os em tamanhos descomunais. Eram massas de músculos e gordura, capazes de investidas tão fervorosas quanto um touro atacando. Um desses era capaz de matar dezenas de homens. Sua pele era excepcionalmente áspera, tornando até duas submetralhadoras Uzi não muito mais efetivas do que lançadores de agulha.

O ataque massivo de zumbis continuava; eram intermináveis. Joseph pediu cobertura de Eva para recarregar, enquanto pensava em algum plano para matar o gigante. Mas tinha que ser rápido.

O urro ensurdecedor do gigante ecoou na estrada. Ele inclinou seu tronco deformado e desproporcional de músculos e gordura para frente e começou a investida.

Mais zumbis avançavam junto com ele; os que ficavam em seu caminho, eram pisoteados, deixando apenas um rastro de carne esmagada e ossos quebrados.

Eva metralhou mais alguns, enquanto sua cabeça pensava desesperadamente num plano; e ao primeiro feixe de luz, ela gritou.

- Joseph, corra para longe dos carros!

O gigante se aproximava, sete metros.

Joseph metralhou mais um zumbi, enquanto pulava por cima de um dos carros.

Quatro metros.

Eva metralhou a cabeça de mais um, os dois pinos caíram ao chão.

Um metro.

Eva girou o corpo, encolhendo-se para se jogar para longe. O gigante investiu contra o carro

que ela estava a um segundo atrás...

E as duas granadas explodiram.

Eva foi lançada para longe. A explosão pegara a parte de trás de seu corpo, além de estilhaços que perfuraram sua pele. Ali, jogada no chão, ela mal podia se mexer.

Todas as imagens eram turvas; lentas. Aquele não fora o melhor dos planos, mas era o mais eficiente. Algo em sua cabeça gritava para ela se levantar e fugir, que estava em perigo; mas qual era o perigo mesmo? À sua frente, ela via novamente o jardim de casa, sua mãe parada na porta olhando sua pequena garotinha brincar. Mas também tinha uma voz familiar que não deveria estar ali.

Joseph.

Joseph? Seu amigo gritava o nome de Eva, o barulho de tiros e urros. Tudo parecia uma realidade distante agora. Aqueles urros não pareciam assustá-la mais. Eva sentiu que alguém a pegava nos braços; mas sua mãe estava parada na porta. De quem eram aqueles braços, suados, quentes? Ela ouviu Joseph gritar seu nome mais uma vez.

- Joseph... - Ela falou, surpresa por ver que sua voz não tinha força para sair da garganta - Fique... Bem...


À sua frente, estava mais uma cidade. Joseph tomou o último gole de água e jogou a garrafa longe. Ele não sabia como estaria a cidade. Podia estar tão infestada quanto a última, ou talvez menos, ele não teria chance sozinho. Abaixou a cabeça. Mas tinha que continuar. Não era justo com seus amigos que se sacrificaram para que ele chegasse tão longe... E se rendesse tão facilmente. Mesmo sozinho, ele tinha esperança. Talvez ela não durasse mais do que uma semana, assim como sua sanidade quando ele entendesse que não existia mais ninguém para conversar e tornar o dia seguinte um pouco menos assustador.

Tinha mantimentos para mais três dias; o ideal seria se encontrasse um supermercado.


Fim.

quarta-feira

Além do visual...


Nem há muito o que comentar;
Eras inteiras passam em questão de segundos, mas certas amizades sempre sobreviverão. Por mais diferentes que as duas pessoas sejam, de alguma maneira elas se entendem; acima disso: se apóiam.
Esse acaba ficando um post muito pessoal, mas preferi dividí-los com vocês para mostrar:
Amizades existem. Umas podem ser mais calorosas e afetivas do que outras, mas isso não as faz menos poderosas. Amigos existem independentemente de quem nós somos, a roupa que vestimos ou a música que ouvimos...
Louvem seus amigos. Eles são os personagens de suas histórias.

(Acessem também ~> http://helpingdc.blogspot.com/)

Monstruosidades...

Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez, além das montanhas, uma doce menina de cabelos d'Ouro que sempre usava um velho capuz sobre a cabeça. Mamãe, ele precisa de costura; e retalhos cor de maçã nomearam-na:
Chapeuzinho Vermelho.

Certa tarde, mamãe chamou chapeuzinho. Disse-lhe que era para levar uma cesta de geléias para a casa de sua avó; mamãe parecia triste.
- Do outro lado da floresta? - Perguntou Chapeuzinho
- Sim filha. Mas preste atenção: deve chegar lá antes do anoitecer! Não saia da trilha, cuidado com as árvores e não converse com estranhos.

Chapeuzinho vestiu seu capuz, apanhou a cesta e seguiu seu caminho. A trilha era iluminada pela luz do sol; todo o resto da floresta era banhado pela escuridão. Num cantinho da trilha, uma coloração roxa chamou a atenção de Chapeuzinho.
- Violetas! - Animou-se ela, e logo começou a colher. Uma aqui, outra ali; e, aos poucos, a trilha e a luz ficaram para trás.
"Que faz por aqui, menina"
Chapeuzinho assustou-se com a voz grossa; olhando em volta, ela encontrou um sapo gordo, de olhos esbugalhados à beira de um brejo.
- Estou colhendo violetas - Respondeu Chapeuzinho, pouco à vontade; o sapo coaxou.
Chapeuzinho teve um estalo; assustada, começou a procurar a trilha e a luz que deixou para trás, mas aos poucos, a frustração começou a afogá-la.
- Acho que me perdi - Falou Chapeuzinho; O sapo coaxou.
"Cuidado! Cuidado!"
- Não se preocupe, senhor. Chamarei se precisar - Respondeu Chapeuzinho
"Já vai escurecer. Que tem na cesta?"
- Geléia para minha avó que mora do outro lado da floresta - Respondeu Chapeuzinho, olhando para a cesta.
"Então corra para chegar antes"
- De anoitecer...? - Perguntou Chapeuzinho, mas o sapo não estava mais lá.
Chapeuzinho começou a perambular pela floresta procurando uma saída. Aos poucos, chiados e cantos assombrosos cresciam ao seu redor. Os poucos feixes de luz que desciam começavam a enfraquecer. Chiados, flaps de asas, e a luz enfraquecia. Chiados, olhos brilhantes e a luz enfraquecia. Enfraquecia, até morrer.
"Que faz por aqui, menina?"
Chapeuzinho deu um pulo. Começou a procurar de onde vinha aquela voz fina; pousada numa árvore, estava uma enorme mariposa branca, com pó caindo de suas asas.
- Estava colhendo violetas e me perdi - Respondeu Chapeuzinho, mal sentindo a voz sair de sua boca; a mariposa não se mexeu por um longo tempo, então bateu as asas.
"Agora é tarde! É tarde! Cuidado"
- ...Se precisar, chamarei senhora - Respondeu Chapeuzinho confusa.
"Escureceu porque é tarde! Que tem na cesta?"
- Geléia para minha avó, ela mora do outro lado da floresta... - Respondeu Chapeuzinho, dando dois passos para trás e procurando novamente a trilha.
"Pois agora não adianta mais! Suas flores já morreram, menina! Antes você não chega! Não fale com ele, logo todos saem por aí..."
- Obrigada... - Interrompeu Chapeuzinho; mas a mariposa não estava mais lá.
A menina encolheu-se e levou um susto quando olhou para as violetas que colhera há horas atrás; estavam mortas. Ela jogou-as longe e começou a choramingar.
- Quero mamãe...
Logo, a floresta começou a farfalhar. Os chiados e gemidos diminuíram, mas o farfalhar aumentava.
- Estou com medo... - Choramingou a menina; mas a floresta apenas farfalhava, com chiados baixos. Como ela queria estar em casa, como queria estar longe daquele lugar horrível. De onde vinham tantos chiados, tantos barulhos? Quantos estariam observando a menina chorar naquele minuto?
As árvores abriram seus olhos, brilhantes como vagalumes; e um uivo ecoou.

"Que faz por aqui, menina?"
Chapeuzinho estremeceu quando ouviu a voz faminta e viu o horror que saía atrás das árvores; era um lobo enorme, velho e caolho, com uma longa cicatriz no rosto.
- Estava - Gaguejou Chapeuzinho - Levando geléias para minha avó...
"E onde ela mora?"
- Do outro lado da floresta - Respondeu Chapeuzinho sentindo seu coração subir pela garganta.
"E se perdeu? Ora... Que infeliz acaso..."
O lobo começou a sorrir maliciosamente.
- Pode me ajudar? - Perguntou Chapeuzinho, o suor descendo o rosto.
O lobo apenas levantou o focinho para uma direção.
"Siga sem desviar"
Chapeuzinho agradeceu mais de uma vez, antes de correr para a direção indicada.

O lobo sorriu. Correu por um outro caminho, desviando de galhos secos e chegou à casinha de madeira da vovó. Bateu na porta e esperou.
"Quem é?" perguntou uma voz fraca vinda de dentro da casa.
"Sua netinha"
"Ora, entre querida! Boa é a hora que vem!" respondeu a velhinha.
O lobo entrou, espreitando-se pela soleira iluminada; passou pela sala limpa, pelo corredor branco e entrou no quarto arrumado da velhinha. Um grito muito fraco ecoou pela casa; descendo a colina, vinha Chapeuzinho.
Ao se aproximar da casa, a menina estranhou a porta semi-aberta. Bateu uma vez mesmo assim.
- Vovó? É a sua netinha, Chapeuzinho Vermelho. - Ninguém respondeu.
Chapeuzinho empurrou a porta, e entrou na soleira, estranhando por estar escura. Passou pela sala sem ver as pegadas, pelo corredor sem ver as manchas de sangue.
- Vovó, como sua casa está desarrumada! - Falou Chapeuzinho.
Nenhuma resposta; Chapeuzinho começou a ficar enojada.
- Vovó, como sua casa está fedida! - Falou Chapeuzinho, tapando o nariz; mas ninguém respondeu. Do quarto da vovó, começaram a soar sons de pasta.
- Vovó - Disse Chapeuzinho, chegando ao fim do corredor - Que sons estranhos você...
O terror que a menina viu foi tão grande que sufocou suas palavras.

Em cima da cama, estava o lobo, sujo de sangue, devorando o cadáver da velhinha; estava sem um dos braços e sua barriga estava aberta.
Chapeuzinho soltou um grito, enquanto o lobo olhava para ela famintamente. Logo, o corredor, a sala e a soleira passaram correndo pela menina, e a floresta voltava a se aproximar.
Os galhos e os gemidos começaram a persegui-la.
- Socorro! Sapo, Mariposa! Preciso de ajuda!
Mas ninguém respondeu. Nenhum sapo falou.
"Sapos não falam, menina tola"
Nenhum bater de asas de mariposas.
"Mariposas nunca irão responder, minha filha!"
- Não! - Gritou Chapeuzinho.
O farfalho voltou à Floresta.
- Estou com medo!
Gritos, lágrimas.
- Venham me buscar!
Pânico.
- Por favor, alguém! - Berrou a menina.
Mas a única resposta foi um uivo.
Chapeuzinho gritou e chorou
- Mamãe, vovó! Venham me salvar!
"Mamãe estava triste; vovó está morta"
A menina gritou e chorou mais alto, mas apenas o lobo a ouviu.
Um último uivo ecoou, e logo a floresta não chorava mais.

quinta-feira

Brinquedos Afiados...

Quando as lanternas se apagarem - Parte 2

Era um dia ensolarado. No jardim, a pequena Eva brincava de casinha com sua boneca. Mas os vizinhos gritavam muito. Muitos carros estavam passando na rua aquele dia, o que estava acontecendo? Na garagem, um motor desligando. Passos apressados atravessando a casa, até saírem no jardim.
- Eva! Venha querida! Nós temos que ir!
O que mamãe fazia em casa tão cedo? E para onde estavam indo?
- Onde vamos? - Perguntou a menininha de cachos negros.
- Vamos embora! - Um toque de celular - Vamos ficar com o vovô no sítio... - Outro toque de celular, então mamãe atendeu - Alô? Oi. Não, ainda não! Estou em casa, pegando a Eva! -Seus olhos se enxeram de fúria - Eu não podia deixá-la, é minha filha! - Lágrimas escorriam - Não, não fico de jeito nenhum! A cidade está infectada! Se alguém dos arredores morrer... Oh Deus, como isso pode estar acontecendo?!
Por que mamãe estava chorando?
Por que todos estavam correndo, os carros seguindo uma única direção?
Eva? Eva?


Eva balançou a cabeça, espantando a memória ruim. Respirou fundo, esperando manter os últimos fios de coragem para apertar os gatilhos.
Joseph e Edward mantinham o olhar fixo no açougue, seus rifles levantados à altura dos olhos.
Os gemidos se aproximavam, agora formando vultos.
Eva abaixou-se, desligando a lanterna de Joseph. Deviam permanecer na escuridão, dar o mínimo de pistas possível de como serem localizados; se ainda não tinham sido notados, tinham a mínima chance de fugir despercebidos. Mas se tivessem sido, acima de tudo, deveriam permanecer unidos; uma vez que os tiros começassem, ELES poderiam vir de qualquer lugar; e uma ferida profunda seria pior ainda: atrairia multidões deles, assim como açucar atraindo formigas. Mesmo que corressem, ELES correriam atrás; pior: eram mais rápidos.

Gemidos menores.

Passos pesados avançando pelo açougue.

Isso era mal. Não estavam andando aleatoriamente, estavam seguindo uma direção. Se fosse a
errada, ainda teriam chance de fugir furtivos...

Uma pegada úmida. Uma mão apoiando-se numa plataforma e tomando impulso.
Estavam passando por cima do balcão do açougue. Era pior do que Eva pensava: estavam seguindo AQUELA direção.

Tudo estava escuro; desde que Eva desligara a lanterna, suas pupilas ainda não haviam dilatado o suficiente para enxergar na penumbra. Os vultos perambulando pelo corredor, os passos mais pesados, os gemidos mais altos; estariam a uma distância de uns 12 metros e avançavam. Era muito perto, não tinha como errar: estavam indo para lá. Sentiram o cheiro de algo e se aproximavam para verificar se esse algo ainda era capaz de sangrar; mas nenhum dos três queria sangrar aquele dia.

As três lanternas instaladas nas armas foram acesas; e as luzes banharam a multidão de quinze zumbis que avançavam pelo corredor.

- Fogo! - Gritou Joseph.
O barulho que se seguiu foi indistinto; uma espiral de explosões dos tiros, dos urros famintos e dos gemidos dos atingidos. Os passos pesados aceleravam.
No centro, Eva atirava com apenas uma de suas submetralhadoras. Ed e Joseph seguravam firmemente os fuzis M16 ao lado dela, seus olhos frios em suas vítimas.

Edward recuou dois mínimos passos. A ponta de seu fuzil piscava com as balas que saíam desesperadas para acertar os zumbis; uma massa de corpos que avançava freneticamente, seus olhos e dentes brancos brilhando nos flashes de tiros.

Mais zumbis vinham do açougue.

A munição de Joseph acabara.
- Eva! - Gritou ele - Cobertura!
Bastou ela erguer a outra mão, carregando a outra submetralhadora e as luzes no supermercado se tornaram mais intensas.

Os suor escorria em seus rostos.
No chão, as carcaças que não conseguiam mais levantar se tornavam mais numerosas; poças e espirros de sangue coagulado, velho davam um vermelho sinistro no caminho. Menos e menos zumbis apareciam no açougue; fora uma vitória fácil, sem deixar qualquer um se aproximar mais do que 4 metros.

Joseph recarregara seu fuzil e acertou mais quatro tiros, derrubando um zumbi que pulava o balcão do açougue. Atrás deste, vinham mais.

Mais, sempre vinham mais.

Mais urros, mais gemidos. Mais do que esperavam.

As balas perderam velocidade. Os sons ficaram mudos. Eva ouvia apenas seu coração subindo pela garganta enquanto a conclusão e o desespero inundavam seu corpo. Os urros e gemidos vinham de mais de uma direção.

Do lado direito do trio, o vidro da porta se estilhaçou.

O som dos urros tornou-se insuportável.

Edward, que ficava do lado direito, virou-se para atirar nos que avançavam pela lateral; mais de vinte; e suas balas estavam acabando.
Ele moveu-se alguns passos para o lado, abrindo espaço para seus companheiros ganharem mobilidade.

A massa frenética que vinha pela direita chegava mais perto; poucos caíam pelos tiros de Edward; nove, oito, sete metros...

- Joseph! - Gritou Edward com toda a força de seus pulmões.
Eva moveu-se para frente, mantendo as duas submetralhadoras erguidas. Derrubava dois, três, quatro zumbis nos fundos do açougue; sangue coagulado espirrava pelo corredor; Joseph cessou os tiros, apenas para virar para sua direita, avançar dois passos por trás de Eva até chegar ao lado de Edward, e então acertar três tiros na cabeça de um que estava a menos de cinco metros.

Apenas mais dois zumbis avançavam pelo açougue; no entanto, pelo flanco direito eles chegavam a distâncias assustadoramente próximas.

As balas de Edward acabaram.

- Eva! - Ele gritou - Cuida daqui!
A distância entre os zumbis e as submetralhadoras aumentava; isso piorava sua eficiência. Eva baleou mais um zumbi, então ergueu as armas e correu para o lugar de Edward.

Ele suava recarregando seu fuzil. No fundo do açougue, três urros famintos e logo, passos desesperados avançaram pelo corredor.

Estava na metade do processo. Ele conseguiria antes de chegarem.

Cinco metros.

Faltava pouco, estava quase recarregada.

Três metros.

Fora um erro ficar ali.

- EVA! - Gritou Edward em pânico.

Eva abriu os braços, direcionando o esquerdo para o corredor do açougue enquanto mantinha o direito no flanco. Por uma fração de segundo, ela viu os três zumbis numa distância apavorante de Edward. Sua submetralhadora disparou contra o mais próximo, abrindo fileiras de furos em sua lateral e espirrando sangue coagulado.

O fuzil estava pronto. Edward ergueu-o a tempo de balear o zumbi que já estendia os braços para pegá-lo, abrindo enormes furos em seu tórax.

Eva voltou sua atenção para o flanco, baleando outro que estava a menos de seis metros.
Os zumbis soltavam gemidos úmidos enquanto caíam para trás.

Edward se virou para atirar no segundo...

O grito gelou o coração de seus companheiros. Eva ousou olhar para trás e seus olhos foram hipnotizados pelo terror.

O terceiro zumbi mordia freneticamente o ombro esquerdo de Edward, que atirava desesperadamente para frente enquanto perdia o ar dos pulmões nos gritos de dor; juntou com toda a sua força os mais fracos fiapos de controle e acertou sete tiros descoordenados na barriga do adversário faminto.

O zumbi soltou um gemido que minguou conforme ele caiu seco; Edward despencou de joelhos.

No flanco, o cheiro de sangue fizera os zumbis enlouquecerem; os últimos cinco avançaram da rua, indo direto na direção de Edward; tiros nas pernas, nos tórax e nas cabeças, e antes deles cairem, Eva e Joseph já corriam ao socorro do companheiro.
Ed estava encharcado de suor, sua respiração pesada.
Eva acendeu sua lanterna de mão, mirando o feixe de luz para o ombro ferido; uma enorme marca de mordida dilacerava a carne, pele e tecido, cercada por uma extensa mancha de sangue. Joseph já corria para pegar sua mochila.
- Isso... Vai... Atrair... Uma... Centena... Deles... - Falava Edward, olhando aflito para Eva.
- Nós vaos sair dessa, Ed! - Mas os olhos dela estavam vidrados de desespero.
Joseph voltou correndocom uma seringa carregada de um líquido violeta.
- Isso vai doer no começo, parceiro, mas vai te aliviar em alguns minutos - E antes que Edward pudesse falar algo, Joseph espetou a seringa na mordida, descarregando todo o líquido.
Edward urrou de dor; Joseph tomou distância; Eva permanecia com o olhar fixo em Edward, seu parceiro tão controlado se debatendo de dor.
- Isso vai livrá-lo da infecção, mas ainda precisamos limpar o sangue! Precisamos pensar rápido em como sair daqui! - Falou Joseph, interrompendo os pensamentos de Eva.
Eva pensou, sem tirar os olhos de Edward.
- Iremos para a estrada. Podemos procurar carros parados e atirar à distância. Com o efeito do antídoto, o sangue estancará em algumas horas...
- Precisamos de mais do que isso Eva! - Interrompeu Joseph - Será pelo menos uam centena deles!
Ela não desviava os olhos de seu parceiro, seus olhos desesperados com um fraco brilho de esperança.
- Nós temos que conseguir!


Edward aos poucos se acalmava. Parara de se debater e não gritava mais de dor; sua respiração ainda estava pesada. Eva e Joseph terminavam de colocar os mantimentos nas mochilas; na rua, urros e gemidos ecoavam de cantos diferentes.
- Me deixem... - Suspirou Edward.
Joseph, o mais próximo, respondeu sem olhar para ele.
- Não seja ridículo! Não vamos deixar você aqui! É nosso companheiro!
Edward soltou uma risada forçada.
- Não posso ser responsável pela morte de vocês!
- Nem nós pela sua! - Interrompeu Eva - Vamos avançar pela estrada e pegar cobertura! Em algumas horas...!
Os urros e gemidos se tornaram mais intensos. Estavam se aproximando.
- Me deixem! - Insistiu Edward - Posso servir de isca! Darei tempo a vocês!
Eva olhava fixamente para Edward, seus olhos se perdendo em um futuro incerto.
Na rua, já era possível ouvir os passos correndo para o supermercado.

Continua...

quarta-feira

Monstruosidades...

- Qual a doença? - Perguntou o doutor a caminho da sala de operação.
- Não foi uma doença, doutor. Foi um acidente de carro - Falou a enfermeira.
- Qual o estado?
A enfermeira fez uma pausa.
- Grave.

Sala de operação.

O doutor Maciére trabalhava sozinho, lentamente, apenas com o zunido da lâmpada que iluminava a maca e o paciente; todo o resto da sala estava engolido na escuridão.
A enfermeira entrou. Caminhou silenciosamente, como um gato se aproximando de sua vítima e observou de longe como andava a operação.
- Pois não? - perguntou o doutor, inesperadamente.
- Oh - Espantou-se a enfermeira, desconcertada por não ter sido tão silenciosa quanto pensara. As palavras não subiam à garganta.
- Tudo bem, tenho um bom ouvido para pegar respirações, se é que me entende... - Explicou o doutor, ainda fixo em seu trabalho.
Ela apenas assentiu, esquecendo-se por alguns segundos que ele não prestava atenção nela. Acalmou-se um pouco e perguntou.
- Como ele está, doutor.
Ele respirou fundo. Interrompeu-se um pouco e olhou para a enfermeira.
- Uma perna com fratura exposta, uma mão decepada, cortes por todo o corpo e o peito inteiro putrefato.
A enfermeira assentiu novamente.
Ambos olharam juntos para o cadáver e silenciaram-se por alguns segundos. Logo, o zunido foi acompanhado pelo suspiro da enfermeira.
- Ora, não se preocupe! - Interrompeu o doutor Maciére - Ele ainda tem a cabeça, um braço e uma perna bons, fora que era em geral bonito. Vamos encontrar outra mão, outra perna e uma pele de peito melhor para ele...
A enfermeira assentiu, virando-se para seguir para a sala onde guardavam os membros extras.
- Ah sim - Chamou o doutor antes que ela fechasse a porta - Traga mais linha de costura. Eram muitos cortes, não sei se sobrará para os membros novos. Não queremos que quando ele levante, seu corpo comece a desmontar pelo caminho, certo?!

Tesouras Cegas...

Eles cantam de suas vantagens e riem dos que não se defendem
Eles impõem suas próprias regras e Cospem no Respeito das pessoas;
Aturamos tudo isso até um Ponto...
Até um Ponto...
Até Eles tentarem matar por liberdade da diversão egoísta; e não terão direito de chorar e implorar pelo perdão quando a Noite chegar.
E não terão Tempo de se despedir quando chamarmos nossos Iguais para arrastar,
Um por Um,
para longe de seus Falsos Protetores

terça-feira

GloomCester Says...



Acabo de voltar do cinema, a sessão à noite de Alice no País das Maravilhas.
É a segunda vez que vejo, e não pude resistir de comentar por aqui.

Vou começar com uma única palavra para cercar todo o meu comentário:

Indigesto.

O filme é Indigesto.

Não usando a palavra num sentido negativo, MUITO pelo contrário; há tanta riqueza, tanta mensagem, tanta coisa a se prestar atenção que não é possível engolir o filme inteiro de cara; é preciso receber a informação, sair, pensar, dissecar o filme na sua cabeça, esfriar a idéia... Então voltar e reassistir, cada cena, cada detalhe, cada mensagem.
Sim, CADA.
Isso porque é um filme minimamente bem trabalhado.

Vamos pelo básico: As críticas gerais falam que o filme não é uma boa adaptação. Se pararmos para ver, o filme não é uma adaptação de nada, é uma colcha de retalhos; uma história meio Frankenstein saída direto da mente de Tim. Ele pega um pedaço de um livro de Carrol aqui, outro livro ali, mistura conforme quer, recostura como quer; é um processo de mutilar a história original, pegar os pedaços e recolocá-los até ficar a cara do próprio diretor.
Algo negativo nisso? Duvido muito...

Tim Burton mostrou, com muito estilo que não é simplesmente um contador de histórias. Todos esperavam a história original de Alice apenas com figurinos e cenários Burtonianos e Johnny Depp em outro papel louco; mas o diretor possivelmente preferiu ir além: ele pegou os personagens, as falas, as temáticas mais influentes de Alice no mundo DELE e misturou tudo para mostrar ao NOSSO mundo. Não é simplesmente uma história recontada, é uma exposição de como uma das mais loucas histórias do mundo influencia um dos mais loucos diretores do mundo.

Passar da realidade para voltar ao "País das Maravilhas"? Adolescência.

Escrever uma história segundo as suas regras e não simplesmente pelo que dizem? Fibra.

Enfrentar, de cabeça erguida, um desafio destinado a você, mesmo que seja literalmente um Dragão? Amadurecimento.

MUITAS outras coisas se escondem no filme. Tim Burton literalmente RECRIOU o País das Maravilhas, a ponto que sempre que vemos o filme encontramos algo novo.

E sua genialidade não afogou seu estilo encantador.

Alguém mais conseguiu ver traços da floresta de Sleepy Hollow nas primeiras cenas no País das Maravilhas? Alguém mais lembrou-se de Jack Skellington ou Beetlejuice quando viu o teto listrado na toca do coelho? Alguém mais ficou confuso se entrava na Fantástica Fábrica de Chocolates quando viu tantas cores e sorrisos juntos?

Tim Burton amadureceu. Mais do que já era. Talvez entre muito de minha admiração pessoal por ele nessa crítica, peço desculpas por isso, mas tenho certeza que outros também perceberão o que digo.

A reação foi negativa talvez porque as pessoas não estivessem prontas para encontrar algo tão fora do comum, como uma história praticamente refeita apenas à vontade de seu diretor para dar ênfase a seus pontos favoritos ou mais profundos. O filme tem defeitos, como qualquer outro, mas chega a ser mágico a ponto de deixar lições tão claras na mente e tão turvas em palavras.

O figurino, a luz e sombra, o cenário... Tudo isso está claramente Burtoniano no filme, assim como em qualquer outro vindo dele. No entanto, o diretor inaugurou algo mais: a mutilação livre e destaques recosturados da história original. A pura influência de Alice na mente de Burton.

As pessoas esperavam mais do filme...

Mas quem sabe Tim Burton também não esperava mais de nós?

segunda-feira

Tesouras Cegas...

Acredito no Impossível.

Posso ser visto como ingênuo, imaturo, criança... Mas essa é a verdade; quando era mais jovem, vivia fazendo surpresas para as pessoas que amava, pois queria que elas deitassem suas cabeças nos travesseiros aquelas noites e pensassem "eu nunca imaginei, essa manhã, que uma coisa dessas aconteceria bem hoje".
E sempre sonhei com dias que fariam o mesmo comigo. Sempre sonhei com pessoas que me ligassem ou me procurassem apenas para matar saudades, sem avisar; sempre sonhei com dias que acordaria e veria, aos poucos, o impossível acontecer.
Discordo de muitos engessamentos da ciência; não desaprovo, muito menos nego suas conquistas, mas acho que a ciência aos poucos vira uma religião cega: Contamos com a explicação de tudo à ela, como se fosse um Deus.
Oras, somos jovens. Nunca seremos capazes de entender ABSOLUTAMENTE tudo no universo; então, por que não sonhar, não acreditar no impossível?
Por que não acordar todos os dias esperando que o inevitável não aconteça? Por que não acordar todos os dias esperando que aquele dia, acontecerá algo tão gargantuamente grande, que pode ser capaz de mudar sua vida para sempre? Uma Descoberta, uma Epifania, um Amor ou Amizade que comecem a desabrochar justo naquele dia?
Ao final do dia, pode ser que nada disso tenha acontecido. Pode ser que ao final da sua vida, nada disso tenha acontecido. Então você sentará para ver o pôr-do-sol e se verá suspirando, afinal, você viveu sua vida não pelo que os outros dizem, mas pelo que você acreditou.
Ficará feliz por ter acordado todos os dias da sua vida esperando ansioso que o impossivel acontecesse, ao invés de acordar todos os dias desiludido que o impossível é,
simplesmente,
impossível.

domingo

Palavreados...

Como você consegue?
A aranha desceu lentamente por um fio de seda para olhar o gafanhoto mais de perto
Consigo o quê?

Olhe pra você! O gafanhoto estava indignado
É tão pequena, frágil, lenta. Não tem uma mordida eficaz, é uma presa fácil!
Os olhos da aranha se enxiam de sadismo.

Seu físico é tão fraco! Continuou o gafanhoto. Pode ser esmagada por um maior!
Ainda assim, como, como consegue instigar tanto terror?
As idéias nadaram pelos olhos, o prazer pingou de sua boca. A aranha falou.

Simples! O segredo não está no tamanho do monstro, mas em sua eficácia.
Posso não ser eficaz sozinha, mas serei o ser mais temido do mundo
Quando cair na minha teia

Vai chorar, incapaz de sair, ao lembrar como sou lenta
Ao ver o terror crescendo calmamente enquanto não há como reagir.
Vai gritar e sofrer com cada mordida e gota de veneno

E nessa hora você desejará que eu seja um predador enorme
Rápido, letal... Mas ineficaz.
Ineficaz como? Perguntou o gafanhoto

A minha diversão está em conhecer minha vítima. Continuou a aranha, salivando.
Sob a tortura, a vítima é capaz de qualquer coisa para a morte graças ao desespero.
Acredito que ouvi ofertas de seus amigos mortos que você mesmo nunca ouviria...

quinta-feira

Brinquedos Afiados...

Quando as lanternas se apagarem - Parte 1

Eva forçava os olhos para ler os rótulos nas embalagens. A luz da lanterna estava fraca.
- Joseph! Pega pilhas pra mim! Estas aqui não duram mais uma noite!
Passos ecoaram nos corredores. Os sons eram os melhores aliados, uma vez que a noite caía. Antes do ocorrido, as pessoas não prestavam atenção nos sons ao seu redor; depois, ele se tornou a principal arma de sobrevivência. Só sobreviviam aqueles que aprenderam a ouvir...
À cerca de cinco estantes de distância, Joseph gritou.
- Não estou encontrando, Eva! Devem ter levado!
- Procure no caixa - Gritou Edward, agachado ao lado da porta.
Joseph andou, tropeçando em algumas embalagens caídas, até chegar ao balcão do caixa. Eva continuou vasculhando os enlatados e Edward voltou a ouvir atentamente qualquer ruí proveniente das ruas aparentemente vazias.

Não falavam, Gritavam apenas o necessário, pois não podiam chamar atenção.

"Vamos passar despercebidos" disse Eva há dois dias quando chegaram à cidade. Até agora, tinham conseguido. A falta de qualquer movimento chegou a fazê-los acreditar que a cidade estava abandonada; mas isso era algo simplesmente impossível. Há algumas horas, tinham ouvido, depois de um dia e meio, o primeiro ruído que não era proveniente deles. Desde então, passaram a falar pouco e evitavam barulhos desnecessários. Não era totalmente tensão; era também um procedimento de precaução.

Joseph passava a luz da lanterna pelo caixa, em busca de qualquer coisa que fosse útil e que eles não estivessem levando ainda. Pegou todas as pilhas úteis que conseguiu: tinham sorte das lanternas terem durado tanto tempo e só começarem a falhar agora, que tinham pilhas novinhas ao seu alcance. "Não devem ter passado por aqui" pensou ele. Uma das maneiras de saber quão precavidos estavam os últimos que passaram por ali (se é que o fizeram) era checar se ainda tinham pilhas disponíveis. Joseph torcia para não encontrar qualquer mancha de sangue pelo supermercado; se estivesse limpo, as chances de estarem próximos a um lugar infestado era menores. "Não, não passaram por aqui. Não conseguiram chegar. Somos os primeiros aqui" reargumentava para si mesmo; aprendera nos primeiros meses após o ocorrido que otimismo melhorava as noites de sono, mesmo que estas durassem apenas algumas horas.

Colocou as pilhas na mochila, pegou sete embalagens de chicletes que sobravam e foi ver as bebidas.

Eva olhava as datas de validade dos enlatados. Estava confiante que comeriam muito bem aquela noite, alem de dormirem mais tranquilos: conseguira algumas latas de atum no prazo de validade, uma maneira de saber que não tinham passado por ali. "Podíamos ficar aqui semanas se soubéssmos quantos tem na cidade". Uma leve onda de tristeza a invadiu. Tinham banheiro, água, bebida e comida. Era praticamente um paraíso; mas não poderiam demorar muito tempo ali; quando ELES encontravam comida, vinham como formigas. Na verdade, quase pelo mesmo mecanismo: barulhos podiam atrair alguns próximos, mas o cheiro de sangue era capaz de atrair centenas em apenas alguns minutos.

Eva sentiu outra onda de tristeza quando se lembrou: lá não tinha munição. Poderia, milagrosamente, existir poucos naquela cidade; mas ainda existiam. As balas podiam estar em maior número, mas se dispersavam mais facilmente.

Jogou todas as latas na mochila e assoviou para os dois, indo para o fundo do corredor e ajoelhando-se no chão.

Edward esperou, ainda atento à rua e aos ruídos. Lá fora, a única luz era proveniente da lua; os postes tortos na penumbra pareciam enormes braços de escuridão saindo das ruas. Os carros vazios eram colinas que podiam dar-lhes algum tempo se o pior acontecesse. Ele já conseguia ver, todos eles avançando numa massa frenética, passando or cima das latarias, os centímetros atropelados conforme se aproximavam mais e mais...

Joseph assoviou, indo para o fundo com Eva. Edward olhou uma última vez para fora.

Silêncio.

Tinha desacostumado de olhar para uma cidade e procurar buzinas, passos apressados e pessoas falando. Há anos que as cidades se tornaram um cenário silencioso; silencioso até o terror
começar.
Eva soltou os cabelos negros, deixando-os cair sobre os ombros. Edward e Joseph chegaram quase ao mesmo tempo, sentando-se primeiro para depois soltarem as armas que carregavam. Os três fizeram o mesmo processo, não necessariamente na mesma ordem: verificaram os cadarços dos coturnos, apalparam o corpo em busca de áreas doloridas e que poderiam estar sangrando, verificaram as armas, limparam um pouco as roupas; todsa pretas. Eles usavam camisetas lisas, com jaquetas de couro por cima e calças jeans escuras, prendendo vários cintos de arrebites. Ela tinha uma blusa de alças grossas, com o escrito "Iron Maiden" desbotado, uma jaqueta e um short jeans escuro. Todos de olhos negros de lápis. Tanto evitar cores chamativas quanto usar maquiagem sombria para mesclar-se vinham, parte de estilo, e parte de precaução; se tinham que ser imperceptíveis nos sons, também teriam que ser visualmente.

Sentaram-se entre no fundo do supermercado, com a geladeira que Joseph acabara de assaltar à direita e o açougue vazio à esquerda.

- Preparem-se para comer feito reis - Falou Eva, numa voz levemente baixa - Consegui enlatados de atum, milho e ervilhas.
- Bom, está pra melhorar! Consegui refrigerantes, mas tão quentes - Completou Joseph - Peguei quantas garrafas de água consegui, tem mais lá, acho bom a gente dividir. Ah, peguei chicletes também, se quiserem. Ev, aqui estão suas pilhas - Joseph jogou para ela um pacote de pilhas novas, fazendo o mesmo com Edward em seguida - Pegue também, Ed!
- O perímetro parece limpo. Pucos ruídos, mesmo assim só de pedras rolando. Nenhum passo ou coisa assim - Falou Edward enquanto guardava o pacote de pilhas na mochila verde-escura - Não devem ter passado por aqui antes, esse lugar não parece ganhar muita atenção deles...
- Tava pensando nisso - Acrescentou Joseph - Tinham muitos pacotes de pilhas na prateleira, não devem ter passado por aqui antes... Fora as bebidas, a geladeira tava quase cheia ainda.
- O mesmo com as prateleiras - Falou Eva, enquanto abria as latas e entregava aos parceiros - Quase todas as latas ainda estão no prazo, poderiamos passar dias, talvez até meses aqui, já que parece que esse lugar não é o favorito deles...
Os três pararam para suspirar. Como seria bom se milagres acontecessem e aquela cidade não tivesse nem dez deles; como seria bom usarem cada lata e garrafa daquele supermercado até esgotarem tudo; quanto tempo isso daria? Racionando? Talvez uns dois meses, ou mais! Dois meses sem preocupações, dois meses descansando os corpos e as feridas; dois meses de pura recuperação após um ano e meio vivendo como nômades. Dois meses para virarem reis e poderem recomeçar sua jornada descansados. Renovados.
Mas milagres assim não existiam. Não mais. A cidade podia estar limpa agora, mas ELES também eram capazes de migrar para lá. E como saberia que esse dia chegou antes de ser tarde demais?
Cada um estremeceu pensando no que aconteceria se fossem pegos. Porém, os estômagos estavam famintos demais para se embrulhar com isso.

Eva entregou garfinhos de plástico, típicos de festas infantis, para cada um e começaram a comer.
- Seria muita sorte encontrar um mp3 novo... - Comentou Joseph.
Os outros riram.
- É sério! Eu sinto falta de música... fora que o da Eva tá cheio de bandas que eu nem conheço...
- E como você faria pra colocar músicas num mp3 novo? - Perguntou Edward, segurando um pouco a risada rouca.
- Não sei... Na verdade, seria melhor um novo celular com mp3, já que o áudio do meu não funciona mais... Daí eu só passava, você sabe, por bluet...

Gemidos desafinados, semelhantes a uma pessoa sendo torturada, ecoaram na rua.

Os três ficaram em silêncio.

Esperaram, com o barulho dos corações acelerando.

Mais um gemido, dessa vez mais próximo.

As três lanternas foram imediatamente desligadas.

Eva fechou os olhos, pronunciando algo para alguém que não estava ali com eles.

Joseph e Edward aproximavam as mãos das armas, mantendo total atenção em cada ruído; aquele que eles tanto temiam crescia na rua.

Os passos pesados.

- Estão se aproximando - Sibilou Edward.
- Não sabemos quantos são - Cochichou Joseph - Não se mexam!
Era um pedido desnecessário de tão óbvio, mas não deixava de ser impossível de ser realizado. A tensão de ver a qualquer momento o primeiro deles, perambulando do outro lado da porta de vidro, sua pele morta descascando, mostrando largos pedaços de sua carne fria; seus olhos brancos, suas roupas rasgadas, suas bocas deformadas cheias de dentes podres; e, por todo o seu corpo, manchas de sangue.

O primeiro. Claramente apodrecido. Claramente morto. Ainda assim, andando delirantemente em busca de carne fresca. Cambaleava como uma pessoa perdida no deserto em busca de um oásis; um oásis que ainda respirasse, bombeasse sangue e que gritasse desesperadamente de dor quando sua pele e carne fossem rasgadas e arrancadas por seus dentes.

O segundo, andando assim como o primeiro. Terceiro, quarto, quinto...

Passaram todos sem olhar para os lados; mesmo se olhassem, possivelmente não veriam os três encolhidos na escuridão. Sua visão estava longe de ser das melhores, seu olfato só captava cheiro de sangue fresco. Mas sua aduição estava sempre atenta aos ruídos da vida.

Foram dezessete ao todo. Não era um número muito preocupante, mas poderiam ter mais na região. Os três poderiam ter cuidade de todos eles num piscar de olhos; mas é possível que teriam enfrentado muito mais nos minutos seguintes.

Os três permaneceram em silêncio, agora comendo com as mãos cuidadosas. Ouviram atentamente os gemidos se afastarem, subindo a rua. Ganharam algumas lojas de distância, silenciando-se lentamente com o horizonte.

Era possível cochichar agora.

Joseph acendeu sua lantera; foi o único.

Eva olhava para seus companheiros. Edward estava tenso; Joseph suava, mastigando lentamente o atum frio.

Lentamente, ela voltou a comer seu atum com ervilhas. Odiava quando coisas assim aconteciam. simplesmente era uma tortura ficar parada e vê-los passando livremente. Tinha uma vontade absurda de revidar, explodir cada um daqueles malditos zumbis; mas não podia fazer nada, por seus companheiros. De nada valia abandonar tudo depois de tanto tempo lutando. Ainda tinha esperanças de encontrar outras pessoas, talvez até um lugar seguro. Uma fortaleza, com centenas de pessoas vivas, sãs e salvas em seu interior. Uma tentativa desesperada de sobrevivência.

Eva olhou para a prateleira acima de Edward.

E seus olhos se arregalaram.

- Merda - Falou ela.

Os meninos olharam para ela, esperando uma resposta. Mas Eva apenas apontou para o que via.

Trilhando os pacotes da prateleira, tinha um espirro de sangue.

Não grande o suficiente para ser notado de cara; não pequeno o suficiente para não ser preocupante.

Joseph e Edward pularam para trás quando viram. Joseph olhou apavorado para Eva.
- Não fomos os primeiros a chegar aqui - Gaguejou
- Mas a porta da frente tem apenas alguns pequenos quebrados - Cochichou Edward - Não há como...
Eva esbranquecia drasticamente conforme tudo ficava claro em sua cabeça.
- A porta dos fundos!
Silêncio.
- Como? - Perguntou Edward, numa tentativa desesperada de afugentar a conclusão que já apavorava Eva e que agora crescia em sua cabeça.
- Quem verificou... A porta dos fundos?

O sangue fugiu do rosto dos três. Não sabiam como ela estava; não sabiam mesmo SE ainda estava.

Um gemido ecoou, do lado oposto ao dos outros, e muito mais próximo.

Joseph e Edward pegaram seus fuzis M16. Eva desprendeu as duas submetralhadoras Uzi da cinta. Ela sabia o risco que corriam: alguns tiros certamente atrairiam os dezessete que passaram de volta. Mas era melhor do que sangrar e atrair mais de cem em alguns minutos.

Outro gemido, ainda mais alto, aproximando-se com passos pesados vindo do açougue.

Eva sentiu o ar de seus pulmões fugir; seu rosto banhar-se em pânico.
- Eles estão aqui dentro.


Continua...

You, what do you own the world?

Nada como viver um dia após o outro...
Nada como enxer a cabeça de pensamentos, livros, músicas e planos com os amigos; talvez só assim não passamos o tempo apodrecendo pensando nas coisas que não aconteceram ou acabaram.
Nessa hora, vejo nossa cabeça como um copo cheio de ácido; um ácido levemente corrosivo, mas ainda capaz de rachar o fino copo se ficar muito tempo nele; o que nos resta fazer é substituir o ácido por outra substância, reenxer o copo de memórias frescas e experiências boas. Longe de ser uma coisa fácil, mas muito simplesmente se torna algo importante.

Enquanto enxemos o copo com a outra substância, por que não ouvimos uma música?
Por que não... Comemos sementes como um Passatempo?


Conversion the software version seven point oh (7.0)
looking at life through the eyes of a tire hub
eating seeds as a pastime activity
the toxicity of our city, of our city

You, what do you own the world?
how do you own disorder, disorder
Now, somewhere between the sacred silence
Sacred silence and sleep
somewhere, between the sacred silence and sleep
disorder, disorder, disorder

More wood for the fires, loud neighbors
flashlight reveries caught in the headlights of a truck
eating seeds as a pastime activity
the toxicity of our city, of our city

You, what do you own the world?
how do you own disorder, disorder
Now, somewhere between the sacred silence
Sacred silence and sleep
somewhere between the sacred silence and sleep
disorder, disorder, disorder

You, what do you own the world?
how do you own disorder
Now, somewhere between the sacred silence
Sacred silence and sleep
somewhere, between the sacred silence and sleep
disorder, disorder, disorder

When I became the sun
I shone life into the man's hearts
When I became the sun
I shone life into the man's hearts.

(Toxicity - System Of A Down)