terça-feira

GloomCester Says...



Acabo de voltar do cinema, a sessão à noite de Alice no País das Maravilhas.
É a segunda vez que vejo, e não pude resistir de comentar por aqui.

Vou começar com uma única palavra para cercar todo o meu comentário:

Indigesto.

O filme é Indigesto.

Não usando a palavra num sentido negativo, MUITO pelo contrário; há tanta riqueza, tanta mensagem, tanta coisa a se prestar atenção que não é possível engolir o filme inteiro de cara; é preciso receber a informação, sair, pensar, dissecar o filme na sua cabeça, esfriar a idéia... Então voltar e reassistir, cada cena, cada detalhe, cada mensagem.
Sim, CADA.
Isso porque é um filme minimamente bem trabalhado.

Vamos pelo básico: As críticas gerais falam que o filme não é uma boa adaptação. Se pararmos para ver, o filme não é uma adaptação de nada, é uma colcha de retalhos; uma história meio Frankenstein saída direto da mente de Tim. Ele pega um pedaço de um livro de Carrol aqui, outro livro ali, mistura conforme quer, recostura como quer; é um processo de mutilar a história original, pegar os pedaços e recolocá-los até ficar a cara do próprio diretor.
Algo negativo nisso? Duvido muito...

Tim Burton mostrou, com muito estilo que não é simplesmente um contador de histórias. Todos esperavam a história original de Alice apenas com figurinos e cenários Burtonianos e Johnny Depp em outro papel louco; mas o diretor possivelmente preferiu ir além: ele pegou os personagens, as falas, as temáticas mais influentes de Alice no mundo DELE e misturou tudo para mostrar ao NOSSO mundo. Não é simplesmente uma história recontada, é uma exposição de como uma das mais loucas histórias do mundo influencia um dos mais loucos diretores do mundo.

Passar da realidade para voltar ao "País das Maravilhas"? Adolescência.

Escrever uma história segundo as suas regras e não simplesmente pelo que dizem? Fibra.

Enfrentar, de cabeça erguida, um desafio destinado a você, mesmo que seja literalmente um Dragão? Amadurecimento.

MUITAS outras coisas se escondem no filme. Tim Burton literalmente RECRIOU o País das Maravilhas, a ponto que sempre que vemos o filme encontramos algo novo.

E sua genialidade não afogou seu estilo encantador.

Alguém mais conseguiu ver traços da floresta de Sleepy Hollow nas primeiras cenas no País das Maravilhas? Alguém mais lembrou-se de Jack Skellington ou Beetlejuice quando viu o teto listrado na toca do coelho? Alguém mais ficou confuso se entrava na Fantástica Fábrica de Chocolates quando viu tantas cores e sorrisos juntos?

Tim Burton amadureceu. Mais do que já era. Talvez entre muito de minha admiração pessoal por ele nessa crítica, peço desculpas por isso, mas tenho certeza que outros também perceberão o que digo.

A reação foi negativa talvez porque as pessoas não estivessem prontas para encontrar algo tão fora do comum, como uma história praticamente refeita apenas à vontade de seu diretor para dar ênfase a seus pontos favoritos ou mais profundos. O filme tem defeitos, como qualquer outro, mas chega a ser mágico a ponto de deixar lições tão claras na mente e tão turvas em palavras.

O figurino, a luz e sombra, o cenário... Tudo isso está claramente Burtoniano no filme, assim como em qualquer outro vindo dele. No entanto, o diretor inaugurou algo mais: a mutilação livre e destaques recosturados da história original. A pura influência de Alice na mente de Burton.

As pessoas esperavam mais do filme...

Mas quem sabe Tim Burton também não esperava mais de nós?

2 comentários:

  1. Finalmente leio uma critica descente na qual analiza o Filme Tal como Filme, e não uma literatura, como tem me deixado com muita raiva! Parabens pela forma clara e culta de escrever! Gostei muito!

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  2. I found myself in Wonderland.

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