quinta-feira

Brinquedos Afiados...

Existe algo notório sob a Cartola preta – Parte 2


A cidade inteira se animara com a notícia de um circo. Durante o dia, esse era o principal assunto nas ruas, na Escola, na Mercearia...

As crianças contemplavam de longe a enorme forma abobadada de preto. As mais curiosas chegavam perto para tentar olhar em baixo da lona; logo, elas fugiam, dizendo terem ouvido um grito assustador. Um, o mais corajoso ousou chegar perto o suficiente para levantar o tecido e ver o que tinha em baixo.

Não tinha nada. Nem ninguém. Apenas a arquibancada.

À noite, todos deixaram suas casas para ir ver o espetáculo. Os poucos que ficaram, resmungavam porque também queriam ir.

Uma enorme fila se formou diante do balcão de entradas.

Às 22 horas, uma moça pálida e loira apareceu no balcão para vender as entradas na hora. Trabalhava maravilhosamente rápido, reduzindo a fila que representava quase toda a cidade para apenas algumas pessoas em poucos minutos.

"O espetáculo começa daqui a uma hora" respondia ela para os que perguntavam.

Os que já tinham entrada passavam por um gigantesco porteiro, também pálido, careca e com olhos esbugalhados, para entrarem no Circo.

Dentro da forma abobadada era como as crianças tinham descrito: uma enorme arquibancada de madeira que fazia um círculo. No centro, quatro mastros de metal, interligados com cordas, formando um quadrado a alguns metros do chão de terra. A iluminação era fraca, mas parecia que a parte de cima da lona era armada de diversas engrenagens e pesados dispositivos mecânicos. Todos foram se sentando e conversando enquanto esperavam.

Às 23 horas, quando toda a cidade já lotava a arquibancada, uma música começou. Uma música digna de realejo.

As luzes se apagaram.

No centro, apareceu Pierre com a cabeça abaixada e segurando a cartola.

Agora o público era homogêneo.

"Boa noite, Senhoras e Senhores!" Começou Pierre falando numa voz alta e clara. "Boa noite, meninos e meninas, Crianças e Idosos, Vizinhos e Amigos... Bem Vindos ao Submundliee, o Espetáculo mais Assustador do Planeta! Devo avisar que aqui não há truques ou ilusões! Tudo o que virem aqui está acontecendo de verdade! E é sabendo disso que talvez vocês..."- Um enorme Clanque ecoou do teto – "Percam a Cabeça!"

Diversas cabeças, amarradas pelos cabelos em cordas caíram do teto e ficaram penduradas a alguns metros do chão de terra. Pingavam sangue.

A reação inicial foi gritos de pavor e gemidos de nojo.

As pessoas começaram a se levantar, revoltadas; queriam ir embora por causa da mutilação.

Alguém no Público gritou:

"São de cera! Não são de verdade!"

Silêncio. Outra pessoa confirmou.

"É verdade! E estão pingando tinta vermelha!"

No centro, Pierre sorria.

Aos poucos o Público voltava a se sentar. Algumas risadinhas de constrangimento saíram.

"Peço desculpas pelo susto, meus caros, mas a vida não tem graça sem um bom Susto! Mas por que não passamos logo para o primeiro número para encantar mais os seus olhos? Então entre, Mortina e seu Cavalo!"

De trás da lona preta, saiu um elegante cavalo trotando em círculos. Esbaldava dele uma luz esverdeada e não se via pele nem músculos; apenas os ossos do animal. De pé, no lombo dele, uma garota pálida com um vestidinho vermelho escuro. Mantinha os braços abertos e segurava uma sombrinha da mesma cor do vestido.

Pierre foi para trás da lona.

O público ecoou.

"Oh meu Deus! Que belo efeito"

"Parece um fantasma!"

Atrás da lona, Pierre ria baixinho

A menina também sorria. Parecia satisfeita com os aplausos precipitados.

O espectro continuava cavalgando em círculos. Ela se inclinou um pouco para frente. Apoiou uma mão no lombo do cavalo, agachou-se e se fez o movimento.

O público ecoou, dessa vez ainda mais forte.

Mortina deu duas cambalhotas no ar, antes de cair suavemente no lombo do Espectro, ainda em movimento. Voltou à pose inicial como se nunca tivesse saido dela.

O carisma da menina ganhou o público.

A partir daí, cada pirueta, cada pose, cada sorriso era uma oscilação de um pêndulo gigante que hipnotizava a cidade de Nimsburgo. Estavam em transe, maravilhados. Os olhos brilhavam na escuridão.

"Obrigado Mortina!" Pierre interrompeu o feitiço, acordando todos. "Essa menina é uma peça de ouro! Adoramos ela?"

O Público respondeu em afirmativo.

"Então aplaudam!" incitou Pierre.

Os aplausos explodiram em excitação.

"E como próximo ato: Nossos Malabaristas Costurados!"

Antes que os olhos confusos piscassem, quatro sujeitos pálidos com roupas de couro preto surgiram cercando Pierre. Tinham marcas de costura por todo o corpo.

"Começamos com bolas..." Falou Pierre.

Cada um dos quatro começou o malabarismo com três bolas pretas. O Público ecoava com a altura que elas chegavam. Aos poucos o número de bolas aumentava. Quatro, Seis, Nove...

Aplausos precipitados começaram no fundo.

Pierre tomava distância, se aproximando da lona.

"E terminamos com elas! Bem afiadas..." Terminou Pierre, correndo para trás da lona preta.

Os malabaristas rapidamente trocaram os objetos.

Ao início, o público não entendia o que eram. Eram compridas e brilhavam na luz fraca.

Então alguém gritou.

Suspiros de terror se espalharam como uma doença contaminadora pelo Público.

"São facas!" Gritou um

"Não, São tesouras!" Completou outro.

Mais gritos de surpresa.

"Tem facas E tesouras!" Concluiu um Terceiro.

O Público ficou maravilhado. O ato mal tinha chegado à metade e já estavam todos de pé aplaudindo. Assoviavam, gritavam. Seus olhos eram intensos nos malabaristas, não queriam perder nenhum momento. Estavam frenéticos com aquele espetáculo.

"Nimsburgo vai ser mais fácil do que esperávamos" sorriu Pierre para o Mago atrás da lona.

Os malabaristas seguiram com o ato até o final. Jogavam as lâminas para seus parceiros, faziam piruetas, davam cambalhotas; enquanto as facas e tesouras voavam das mãos firmes.

O Público ficara tão maravilhado com a perícia dos malabaristas que não notou as marcas vermelhas que apareciam no chão de terra.

O número foi encerrado, os sujeitos agradeceram e correram para a lona atrás de Pierre.

"muitos danos?" perguntou ele.

Um dos sujeitos estendeu a mão. Estava ensangüentada, cheia de cortes profundos. Dois dedos foram cortados fora.

"Melhor irem para a costureira rápido... Vamos começar a diversão agora" Respondeu Pierre. Seu sorriso era malicioso.

O Público estava fora de controle. Falavam alto, aplaudiam, gritavam, assoviavam. O encanto que passava entre um número e outro agora era permanente. Pierre entrou segurando uma gargalhada de satisfação.

"Não se preocupem" Começou ele "Eles são muito bem treinados! Os poucos cortes que tiveram nunca foram no mesmo lugar!"

O Público ria. Pierre também, mas não pelo mesmo motivo.

"Agora vamos para o próximo número" Anunciou Pierre "Agora, vamos pegar comida" pensou ele, abrindo outro sorriso malicioso.

O Público já aplaudia, maravilhado.

"Que entre o mais assustador Mágico do Mundo!"

terça-feira

Estranho ver que os ponteiros do relógio adoram ficar parados quando mais precisamos deles...
...Não há um fim para nós...

...Há Apenas...

...Um novo Começo...

segunda-feira

Corrosive until The End...



Meus olhos,
que de tanta maquiagem ficaram obscuros,
agora derramam água...
água, água...
Como é o nome disso?!
Lágrimas, talvez...
Pequenas gotas de dor
Pequenas gotas que nunca fizeram sentido para mim...
Até agora...
Chorar me parece fácil...
Mesmo que cada lágrima passe corroendo meus olhos...
Ah, que dor! Que dor!
E então eles derretem...
Pois a dor se torna ainda mais insuportável...
E mais lágrimas caem...
E mais dor as chama...
E mais meu rosto se deforma...
Seria o meu deformando,
Ou aqueles que eu um dia conheci
Parados à minha frente...
Surpresos pela minha cena
Pelas Lágrimas Ácidas que me deformam
Pelo motivo que as faz cair?
E choro mais...
E as imagens à minha frente se entortam...
Se tornam assustadoras...
Estou com Medo, Estou com Medo...
E como, como faço isso parar?
como...
Como chegamos a esse ponto...
Com tantas lágrimas a sair...
que chegam a nos afogar?...
Como lágrimas tão desesperadas...
perdidas... sofridas...
Que nos queimam ao passar...
Podem ser tão violentas,
Arranhando e rasgando minha garganta
conforme passam,
Para então as imagens à minha frente mutilar...
E me incitar,
Me incitar,
A me desesperar,
Cair de joelhos,
E não parar mais de chorar?
E me diga...
Por favor, me diga...
Antes que a imagem de todos vire água na minha frente...
Antes que a pele de meu rosto seja levada pela tristeza...
Antes que o Horror venha me Devorar,
Me diga se há um meio...
De fazer você voltar...


Porque a sua ausência...
Já começa a me Matar...

domingo

Monstruosidades...

Zebra

Sou um ser listrado
Tenho listras brancas e pretas por todo o corpo
Só ainda não sei se sou pálido
com listras pretas tentando me estrangular;
Ou se sou sombrio
com listras brancas tentando me iluminar.

Só sei que de todas,
uma Listra em especial
agora se mostra a Faltar...