quarta-feira

Monstruosidades...

Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez, além das montanhas, uma doce menina de cabelos d'Ouro que sempre usava um velho capuz sobre a cabeça. Mamãe, ele precisa de costura; e retalhos cor de maçã nomearam-na:
Chapeuzinho Vermelho.

Certa tarde, mamãe chamou chapeuzinho. Disse-lhe que era para levar uma cesta de geléias para a casa de sua avó; mamãe parecia triste.
- Do outro lado da floresta? - Perguntou Chapeuzinho
- Sim filha. Mas preste atenção: deve chegar lá antes do anoitecer! Não saia da trilha, cuidado com as árvores e não converse com estranhos.

Chapeuzinho vestiu seu capuz, apanhou a cesta e seguiu seu caminho. A trilha era iluminada pela luz do sol; todo o resto da floresta era banhado pela escuridão. Num cantinho da trilha, uma coloração roxa chamou a atenção de Chapeuzinho.
- Violetas! - Animou-se ela, e logo começou a colher. Uma aqui, outra ali; e, aos poucos, a trilha e a luz ficaram para trás.
"Que faz por aqui, menina"
Chapeuzinho assustou-se com a voz grossa; olhando em volta, ela encontrou um sapo gordo, de olhos esbugalhados à beira de um brejo.
- Estou colhendo violetas - Respondeu Chapeuzinho, pouco à vontade; o sapo coaxou.
Chapeuzinho teve um estalo; assustada, começou a procurar a trilha e a luz que deixou para trás, mas aos poucos, a frustração começou a afogá-la.
- Acho que me perdi - Falou Chapeuzinho; O sapo coaxou.
"Cuidado! Cuidado!"
- Não se preocupe, senhor. Chamarei se precisar - Respondeu Chapeuzinho
"Já vai escurecer. Que tem na cesta?"
- Geléia para minha avó que mora do outro lado da floresta - Respondeu Chapeuzinho, olhando para a cesta.
"Então corra para chegar antes"
- De anoitecer...? - Perguntou Chapeuzinho, mas o sapo não estava mais lá.
Chapeuzinho começou a perambular pela floresta procurando uma saída. Aos poucos, chiados e cantos assombrosos cresciam ao seu redor. Os poucos feixes de luz que desciam começavam a enfraquecer. Chiados, flaps de asas, e a luz enfraquecia. Chiados, olhos brilhantes e a luz enfraquecia. Enfraquecia, até morrer.
"Que faz por aqui, menina?"
Chapeuzinho deu um pulo. Começou a procurar de onde vinha aquela voz fina; pousada numa árvore, estava uma enorme mariposa branca, com pó caindo de suas asas.
- Estava colhendo violetas e me perdi - Respondeu Chapeuzinho, mal sentindo a voz sair de sua boca; a mariposa não se mexeu por um longo tempo, então bateu as asas.
"Agora é tarde! É tarde! Cuidado"
- ...Se precisar, chamarei senhora - Respondeu Chapeuzinho confusa.
"Escureceu porque é tarde! Que tem na cesta?"
- Geléia para minha avó, ela mora do outro lado da floresta... - Respondeu Chapeuzinho, dando dois passos para trás e procurando novamente a trilha.
"Pois agora não adianta mais! Suas flores já morreram, menina! Antes você não chega! Não fale com ele, logo todos saem por aí..."
- Obrigada... - Interrompeu Chapeuzinho; mas a mariposa não estava mais lá.
A menina encolheu-se e levou um susto quando olhou para as violetas que colhera há horas atrás; estavam mortas. Ela jogou-as longe e começou a choramingar.
- Quero mamãe...
Logo, a floresta começou a farfalhar. Os chiados e gemidos diminuíram, mas o farfalhar aumentava.
- Estou com medo... - Choramingou a menina; mas a floresta apenas farfalhava, com chiados baixos. Como ela queria estar em casa, como queria estar longe daquele lugar horrível. De onde vinham tantos chiados, tantos barulhos? Quantos estariam observando a menina chorar naquele minuto?
As árvores abriram seus olhos, brilhantes como vagalumes; e um uivo ecoou.

"Que faz por aqui, menina?"
Chapeuzinho estremeceu quando ouviu a voz faminta e viu o horror que saía atrás das árvores; era um lobo enorme, velho e caolho, com uma longa cicatriz no rosto.
- Estava - Gaguejou Chapeuzinho - Levando geléias para minha avó...
"E onde ela mora?"
- Do outro lado da floresta - Respondeu Chapeuzinho sentindo seu coração subir pela garganta.
"E se perdeu? Ora... Que infeliz acaso..."
O lobo começou a sorrir maliciosamente.
- Pode me ajudar? - Perguntou Chapeuzinho, o suor descendo o rosto.
O lobo apenas levantou o focinho para uma direção.
"Siga sem desviar"
Chapeuzinho agradeceu mais de uma vez, antes de correr para a direção indicada.

O lobo sorriu. Correu por um outro caminho, desviando de galhos secos e chegou à casinha de madeira da vovó. Bateu na porta e esperou.
"Quem é?" perguntou uma voz fraca vinda de dentro da casa.
"Sua netinha"
"Ora, entre querida! Boa é a hora que vem!" respondeu a velhinha.
O lobo entrou, espreitando-se pela soleira iluminada; passou pela sala limpa, pelo corredor branco e entrou no quarto arrumado da velhinha. Um grito muito fraco ecoou pela casa; descendo a colina, vinha Chapeuzinho.
Ao se aproximar da casa, a menina estranhou a porta semi-aberta. Bateu uma vez mesmo assim.
- Vovó? É a sua netinha, Chapeuzinho Vermelho. - Ninguém respondeu.
Chapeuzinho empurrou a porta, e entrou na soleira, estranhando por estar escura. Passou pela sala sem ver as pegadas, pelo corredor sem ver as manchas de sangue.
- Vovó, como sua casa está desarrumada! - Falou Chapeuzinho.
Nenhuma resposta; Chapeuzinho começou a ficar enojada.
- Vovó, como sua casa está fedida! - Falou Chapeuzinho, tapando o nariz; mas ninguém respondeu. Do quarto da vovó, começaram a soar sons de pasta.
- Vovó - Disse Chapeuzinho, chegando ao fim do corredor - Que sons estranhos você...
O terror que a menina viu foi tão grande que sufocou suas palavras.

Em cima da cama, estava o lobo, sujo de sangue, devorando o cadáver da velhinha; estava sem um dos braços e sua barriga estava aberta.
Chapeuzinho soltou um grito, enquanto o lobo olhava para ela famintamente. Logo, o corredor, a sala e a soleira passaram correndo pela menina, e a floresta voltava a se aproximar.
Os galhos e os gemidos começaram a persegui-la.
- Socorro! Sapo, Mariposa! Preciso de ajuda!
Mas ninguém respondeu. Nenhum sapo falou.
"Sapos não falam, menina tola"
Nenhum bater de asas de mariposas.
"Mariposas nunca irão responder, minha filha!"
- Não! - Gritou Chapeuzinho.
O farfalho voltou à Floresta.
- Estou com medo!
Gritos, lágrimas.
- Venham me buscar!
Pânico.
- Por favor, alguém! - Berrou a menina.
Mas a única resposta foi um uivo.
Chapeuzinho gritou e chorou
- Mamãe, vovó! Venham me salvar!
"Mamãe estava triste; vovó está morta"
A menina gritou e chorou mais alto, mas apenas o lobo a ouviu.
Um último uivo ecoou, e logo a floresta não chorava mais.

2 comentários:

  1. Ficou perfeito amor. *-* Você me humilha. <3

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  2. DadDino5.5.10

    Você como sempre é espetacular! Gde bj...

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