quarta-feira

Brinquedos Afiados...

Sala de Espera.
Não era nada do que ele esperava.
A sala era irregular. A clara impressão é que as paredes tinham tamanhos diferentes. No teto, uma luz esverdeada pintava todas as paredes que deviam ser brancas; agora, além de ter uma tonalidade de menta, também tinham marcas de mão e sujeira. O chão era quadriculado de branco e preto, como um tabuleiro. Na parede à esquerda da porta de entrada e da escada, estava o balcão, e sobre ele se debruçava a recepcionista.
- Senhor?
Gaston hesitou por um momento, então desceu a escadinha timidamente.
Sentou numa cadeira de frente para o balcão, então a recepcionista voltou a lixar as unhas. Era loira e de maquiagem borrada. Seu batom era vermelho-maçã engordurado. Ela encarou-o por mais alguns momentos, então voltou a se concentrar nas suas unhas como se abandonasse friamente um cachorro para morrer.
Gaston achava que fora indicado ao lugar errado quando viu que o consultório era no subsolo. E agora, estava hipnotizado de ver como o lugar era... Exótico. Ao lado direito da escada, tinha uma escultura de um cavalo de xadrez que ele deixara de notar quando entrou. Os cantos das paredes estavam repletos de gigantescas teias de aranha. Gaston começou a imaginar o tamanho de suas fiandeiras.
Um som rouco, seco e alto de tosse o puxou de volta. Gaston olhou assustado. Ao lado direito do balcão, sentado em outra cadeira, um homem levava a mão à boca. Era corcunda, careca e com olhos amarelos com profundas olheiras. Quando sorriu, Gaston pôde ver dentes podres em sua boca. Desviou os olhos para fugir daquela imagem.
Ao lado do corcunda tinha um sujeito enorme, uma mistura de músculos, gordura e altura. Seus olhos eram arregalados e fixos no nada, absolutamente sem piscar. Na verdade, seu corpo inteiro não se mexia. Atravessando sua cabeça, ele tinha um cutelo. Devia ser um boneco, uma figura inexpressiva deixada na cadeira.
Gaston olhou pelo rabo do olho para as cadeiras à sua direita e na da ponta, avistou um sujeito curioso. Era baixo, calvo com cabelos brancos e a cabeça em forma de lâmpada. Seus olhos eram frenéticos, quase saindo das olheiras buscando incansavelmente algo. Vestia uma camisa branca e luvas pretas de tecido.
Entre Gaston e o baixinho tinha uma mulher que tremia compulsivamente. Usava um vestido vermelho e preto e estava encharcada. Da cabeça aos pés descalços, pingava dela gotas frias. Seus olhos estavam desesperados, mas não pareciam estar ali. Ela balbuciava apesar dos dentes batendo: "Podre... Maçã... Eu..."
Uma lâmpada vermelha acendeu no balcão. A recepcionista apertou um botão no que parecia um velho gravador e o manteve ali.
- Ela está entrando
- Não - Respondeu uma voz radializada - Eu quero ver... ELE...
Ela olhou para Gaston por cima de óculos invisíveis enquanto tirava o dedo do aparelho.
- O Doutor Maciére quer vê-lo, querido.
Gaston levantou num pulo.
- T-Tudo bem - Respondeu ele, gaguejando.
Cada passo que ele dava era mais pesado. Gaston sentia cada par de olhos - Amarelos, arregalados, frenéticos e desesperados - encarando seus movimentos desajeitados conforme ele avançava desajeitado pela sala. Ele podia ver todos eles se levantando ao mesmo tempo para agarrá-lo, separá-lo em pedaços e espalhá-lo pelo chão.
A portinha de madeira, com uma placa torta escrita "Dr. Maciére". Gaston girou a maçaneta, entrou e fechou a porta com alívio de ninguém ter levantado para atacá-lo.
O doutor estava de pé. Era um sujeito gentil. Tinha cabelos desfiados, densas olheiras e vestia uma camisa branca, com mangas rasgadas e espirros de sangue. Ele juntava as mãos pelas pontas dos dedos sujos de tinta preta.
- Olá Gaston - Falou o Doutor com sua voz simpaticamente rouca - Gostaria de se deitar? - Ele ofereceu, gesticulando para o divã cor de vinho atrás de si.
Gaston enrubesceu.
- Não tenha medo - Insistiu o Doutor com um sorriso - Só quero entender a sua cabeça... Por que não começa contando sua história?...

4 comentários:

  1. adorei amor...de verdade!

    ResponderExcluir
  2. Você está cada vez melhor nisso. Impressionante! Como você consegue? Você é muito talentoso.

    ResponderExcluir
  3. Anônimo13.5.10

    Gostei muito.
    Ficou uma coisa obscura e detalhada,sem ficar monotóna.
    Você escreve muito bem ^^
    ;**

    ResponderExcluir
  4. Anônimo15.5.10

    Nossa, eu não curto muito histórias assim, mas essa...
    Faço questão de acompanhar!
    Muito boa mesmo. Prendeu a minha atenção.
    Meus parabéns e continue assim ;)

    ResponderExcluir