quinta-feira

Brinquedos Afiados...

Esmeralda

- Eu tenho uma surpresa pra você!
- Não sei se gosto quando você fala isso... - Ele continuou lendo.
Ela olhava para o espelho. Suspirou.
- Você acha que ele vai gostar de mim?
Leon olhou por cima do livro.
- Mana, por que ele não gostaria de você?!
Esmeralda suspirou ainda procurando algo no espelho. O vestido branco parecia não deixá-la mais tão bonita...
- Não sei... Não sei se sou atraente... Acho que sou... Muito branca e pequena... Meu corpo não é bonito!
Leon levantou-se da poltrona vermelha, abrindo um de seus sorrisos doces. Seus olhos verdes brilhavam atrás de alguns fios de cabelo preto e densas olheiras.
- Sem chance, sua tonta! Você é linda! Quero ver um homem no mundo que olhe pra você nesse vestido e não fique triste por não ser ele o sortudo!
Esmeralda voltou a olhar para o espelho, dessa vez mais esperançosa. Sentia seu coração martelar no peito, buscando o caminho para poder sunir a garganta e sair pela boca. "Ora, vamos Esmeralda, não é tão ruim assim! Você vai gostar dele! É um novo mundo inteiro pra você, por que está tão nervosa?! Nada pode dar errado..."

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Choviam gotas frias e tristes.
Os parentes e amigos chegavam juntos, fechando guarda-chuvas vermelhos conforme entravam na Igreja.
Os ternos e vestidos pretos ficavam úmidos com o tempo, mas não pela chuva que vinha de fora. Os primeiros bancos fjá estavam ocupados por os mais próximos dela em vida; os outros convidados sentavam-se aleatoriamente pelos bancos, esperando um pouco de aconchego e um lugar de paz para poderem chorar.
Perante o púlpito, descansava o caixão.
Rosas enfeitavam a cena, dando a única cor que não fosse o preto do luto ou o branco dos lenços.
Duas senhoras cochichavam num canto.
- Que tragédia... Ir assim tão jovem...
- Nem me fale! Era uma menina tão feliz, tão inteligente, tão bonita... E foi tudo tão cruel...
- Como aconteceu?!
Os olhos da segunda senhora incharam, ficando um pouco úmidos.
- Um... Caminhão... Não parou...
- Oh! - As mãos da senhora pararam o espanto e o grito que quase fugiam pela boca.
- Pobre menina - Concordava a segunda - O homem nem mesmo foi punido!
- Que horror... - Um longo período de silêncio durou, enquanto a senhora buscava coragem para encarar o pior dos fatos, até forçar cada palavra a sair timida pelos seus labios - E... Como Leon está?
As duas senhoras olharam para o jovem de cabelos negros no primeiro banco. estava sozinho, um banco inteiro para a sua tristeza sentar-se. Seu olhar era torturado, os olhos deixando as lágrimas saírem descontroladamente.

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O carro preto era muito silencioso. O motor ronronava de leve, elegante, como um enorme felino mostrando classe. Esmeralda, no banco de trás, não parava de bater a sapatilha verde-escura no piso. Estava tremendo.
Os olhos de Leon atravessaram suas olheiras para dar atenção à irmã.
- Deixe disso, Merry... Você será muito feliz, você vai ver! O Cara vai te adorar!
Ela olhava fixamente para fora da janela.
- Não é isso, Leon... Estou com uma sensação estranha... Como se algo errado... Meu peito, minhas pernas, meu rosto... Estão formigando...
Leon expôs mais um de seus sorrisos doces.
- Isso é nervosismo, tonta! - Leon apertou levemente a mão da irmã; estava fria - Vai dar tudo certo!
Esmeralda suspirou. Então sentiu uma onda de alívio inundar seu peito, quando as palavras de Leon pareciam as únicas no mundo que faziam sentido naquele momento. Tudo daria certo. Simples assim. A vida dela começava agora, com um homem disposto a viver para sempre com ela. O homem que ela sempre sonhou: doce, carinhoso, gentil e belo. Não precisava ser um deus no mundo real, mas seria um no mundo dela. Iria se apaixonar por ele todo dia; iria agradecer Leon para o resto de sua vida por tê-la incentivado tanto a seguir em frente; iria agradecer todo dia sua mãe, onde quer que estivesse, por ter dado tanto amor para ela e tantos motivos para sonhar; iria agradecer seu pai todos os dias, por deixar sua filhota sair do ninho tão cedo para seguir a vida adulta. Uma adulta, era isso que seria; mas nunca deixaria de ser Esmeralda, seus gostos, suas paixões, seu amor incomparável por um homem disposto a fazê-la a mulher mais feliz do mundo. Não se importava com o que os outros pensassem ou com os desafios a vir: sabia que nada poderia separá-los, pois sentia que construiriam juntos um amor eterno. Sim, Leon; vai dar tudo certo...
Leon estendeu o corpo para a irmã, aproximando seu rosto com o dela. Esmeralda olhou confusa, mas logo entendeu que seus olhos observavam algo para fora da janela.
O sorriso dele agora era animado.
- Chegamos!

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- Ele parece estar sofrendo muito - Comentou a primeira senhora.
- Não é para menos... Eles eram irmãos muito ligados. Imagino que ele esteja sofrendo mais que o próprio pai...
- Pobre família... A desgraça que aconteceu com a mãe já foi demais para todos...
- Eu soube que a menina sempre sonhou em se casar - Interrompeu a segunda.
- Sim - Concordou a primeira - Passava horas sonhando com o homem de seus sonhos, que fosse aparecer um dia para se casar com ela, construirem juntos uma casa, uma família, uma vida... Terem amor eterno e assim serem felizes....
- Pobre menina ingênua...
O pai de Esmeralda subiu no púlpito. Seus olhos estavam vermelhos, inchados.
As duas senhoras procuraram um lugar para se sentar; as poucos, o silêncio crescia na cena.
- Eu... - Começou, desconcertado - Esmeralda sempre foi uma motivação para todos à sua volta seguirem felizes pela vida - Prosseguiu, com a voz mais firme - Quando fazia sol, ela sorria, cantava falando que a vida era para ser vivida, pois não haviam tristezas ou preocupações grandes o suficiente para justificarem o fim de uma vida; quando chovia, ela demonstrava todo o seu carinho e amor, para que as nuvens que nos assustavam fossem embora e voltássemos a sorrir junto com ela. Desde criança... - Engasgou, apertando os olhos e deixando duas lágrimas escorrerem pelo rosto - .... Desde criança, encontrou no irmão um melhor amigo; e seguiu com esse melhor amigo por 22 anos... Amadureceu rápido, mostrando que sabia enfrentar a vida sozinha, mas nunca deixou de ser aquela criança otimista, sonhadora e apaixonada; aquela criança... - Interrompeu-se novamente, dessa vez por mais tempo; as lágrimas se atropelavam conforme escorriam -...Então, por favor, vamos todos agora orar que conseguiu nos ensinar tanto em tão pouco tempo, para que ela encontre seu caminho no Outro Mundo...
Todos abaixaram as cabeças e fecharam os olhos; exceto leon, que não conseguia parar de olhar o corpo frio da irmã de olhos fechados, implorando dentro de si que eles voltassem a abrir.

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- Fique calma, acima de tudo. Lembre-se que tudo vai dar certo - Falava Leon, segurando Esmeralda pelos ombros, à porta da Igreja.
Esmeralda tremia. Seu coração parecia finalmente ter encontrado o caminho pela garganta e estava a ponto de sair pela boca. Ela continuava a repetir para si mesma que tudo daria certo, mas agora, sem saber o motivo, o efeito não era o mesmo. Ainda estava apavorada de perder algo; algo que até aquele momento, fora a coisa mais importante da vida dela. Se crescesse, virasse adulta, amasse outro, perderia isso? Então não quero, pensava ela. Não quero crescer se for para perder isso. Trocaria meus sonhos por isso! As lágrimas encheram seus olhos.
- Leon... - Ela choramingou.
O imrão apenas continuava olhando para ela, docilmente, esperando ela continuar.
- ... Prometa... - Ela apertou os olhos, assim como seu pai fazia quando queria deixar as lágrimas saírem; gotas prateadas escorreram, pingando ao chão - ... Prometa que nunca, NUNCA vai me deixar! Prometa que... - Engasgou, deixando mais lágrimas saírem, agora desosrdenadas - ... Que eu não vou perder o meu melhor amigo se eu seguir por esse caminho! Prometa que...
Leon estendeu seu dedo indicador, pousando-o na boca da irmã. Respirou fundo, ainda com seu sorriso encantador.
- Eu sempre estarei lá para te escutar. Eu sempre estarei lá para te apoiar. Estaremos sempre juntos, Merry; e nada nesse mundo pode mudar isso!
Esmeralda não se segurou. Deixou as lágrimas jorrarem de seus olhos, enquanto um sorriso abria-se em suas bochechas e, num pulo, ela apertou o irmão num abraço de felicidade.
- Obrigada, Leon! Obrigada por existir! Obrigada, obrigada! Obrigada por ter ficado comigo todo esse tempo, ter ensinado tanto pra sua irmãzinha mais nova! Eu te amo! Ah, estou tão feliz!
Leon fechou os olhos. Algumas lágrimas solitárias de alegria rolaram pelo seu rosto. Alegria, saudade. Saudade que sentiria de sua irmã, alegria por vê-la tão feliz por simplesmente tê0lo para sempre por perto.
- Ora, vamos menina - Disse ele, enxugando suas lágrimas - Você tem horário! Papai vai chegar a qualquer momento para te levar pro altar...
Esmeralda se afastou, encolhendo os ombros e fazendo sua carinha de criança. Leon não resistiu.
- Tá, o que você aprontou?!
- Eu falei com papai para ele não ficar triste... Mas eu quero que VOCÊ me leve pro altar...
Leon fechou os olhos. Um sorriso enorme dominou seu rosto.
- Essa é minha surpresa... - Concluiu Esmeralda, ainda esperando um comentário do irmão.
- Ora, então vamos logo! - Falou Leon, estendendo o braço para Esmeralda, que saltitou para ficar protegida perto do irmão e melhor amigo antes de se lançar em seu sonho e em um novo mundo. - Que abram as Portas!

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Leon ouviu as portas se abrirem. Olhou para todos ao seu redor: ninguém esboçara qualquer reação; ninguém abrira os olhos.
Ele ouviu passos avançarem do fundo. Quatro passos, em conjunto; dois em especial, saltitantes e alegres, ele conhecia muito bem.
Foi a primeira vez que uma idéia levou mais tempo para chegar à mente do que um corpo virar-se para garantir o que ouvira; ele TINHA que saber se isso estava acontecendo mesmo. Seus olhos se arregalaram.

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Esmeralda não conseguia segurar o sorriso. No púlpito, seu pai, de cabeça baixa, falaria o discurso, selando tudo. Todos os seus amigos e familiares estavam presentes. Ela mal podia esperar pelos abraços, agradecendo individualmente a cada pessoa por tornar aquele momento ainda mais especial.
Ao lado do púlpito, Esmeralda a viu; e tamanho foi sua alegria que mais uma lágrima brilhou em seu rosto: sua mãe, vestida de azul, sorria descontroladamente.
E, à frente do púlpito, estava ele.
Esmeralda nunca o vira antes, mas soube, ao primeiro olhar que ele era perfeito para ela. Era elegante, tinha postura e um olhar tão doce quanto o de Leon. Seus olhos eram castanho-claro, brilhantes, cintilantes nas densas olheiras. Ele sorriu para ela, não confiante, não tímido, mas aconchegante; e Esmeralda sabia que, ao ficar com ele, ela estaria em casa.
Leon parou, e o Jovem Noivo desceu a escada, estendendo o braço.

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Leon via quatro pessoas, todas pálidas, e com densas olheiras. Era ele, olhando calmamente para um desconhecido; ao fundo, era sua mãe, abrindo um lindo sorriso.
E de entre Leon e o desconhecido, estava sua irmã. Esmeralda.
Ele tentava falar, mas as palavras não saíam. A felicidade de vê-la ali, bem à sua frente, tão gloriosa, tão sorridente, tão viva apesar da aparência fúnebre. Ele estava em choque, de ver tamanha grandeza de espírito que a pessoa que ele mais amava no mundo agora voltava para lhe mostrar.
Leon ouviu, atentamente, quando o outro Ele falou para o desconhecido.
- Cuide bem dela... É o tesouro mais precioso que eu tenho.
O desconhecido sorria docilmente.
- Então já temos algo em comum, Leon... Você sabe que cuidarei dela pela eternidade, com todo o meu espírito...
O Leon que entregava Esmeralda sorriu. Beijou a irmã no rosto, molhando-a com uma última lágrima de alegria, e foi sentar-se no banco, ao lado do jovem em choque.
Leon sentia uma necessidade de olhar a irmã nos olhos uma última vez. Ver os olhos verdes e brilhantes, que deram o nome a ela; encontrar os dois vaga-lumes que, com apenas um feixe de sua luz, eram capazes de dar-lhe paz de espírito para seguir pelo resto de sua vida.
Esmeralda enrolou seu braço no do gentil cavalheiro. O sorriso abria cada vez mais, vazando
felicidade pelo seu rosto e lágrimas pelos seus olhos. E, olhando lentamente para o banco, seus olhos encontraram os de Leon.
Seu corpo se petrificou, alvo de um frio que explodiu em sua barriga, lançando seu coração à boca. Os olhos da irmã brilhavam de felicidade, úmidos por cada lágrima que ela estava a ponto de escorrer. Lentamente, seus lábios se mexeram.
"Obrigada por tudo" sussurrou ela.
Uma voz invadiu sua cabeça, gritando frases que foram capaz de congelar o tempo e espaço ao redor de Leon de tamanho sentido que faziam. "Eu sempre estarei lá para te escutar. Eu sempre estarei lá para te apoiar. Estaremos sempre juntos"
"Eu te amo" sussurrou Leon.
A imagem da irmã beijando apaixonadamente seu novo amor ficou embaçada pelas lágrimas.

4 comentários:

  1. Eu sei q eu tinha q dizer alguma coisa agora...mas eu realmente não sei oq dizer!
    Cada palavra, cada frase...faz mais sentido para mim do q para tds os outro...e vc sabe disso...
    adorei...está...perfeito...
    não vou tentar falar mais nada...pq não vou conseguir!
    Não preciso dizer q vc escreve mtu bem...isso vc já sabe!
    Acho q agora é uma boa hora pra te dizer uma coisa...
    Obrigada...
    Por td...td oq vc fez até agora...toda a paciência q vc teve comigo...tds os abraços...os sorrisos...TUDO!
    Bom...acho q é só isso...

    Beijos!

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  2. Não tenho nada a dizer a não ser o que você já sabe ; ficou lindo e você escreve de uma maneira encantadora. *-*

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Giovana15.4.10

    eu realmente AMEI daninhu, ameeei!
    estou super orgulhosa de voce, orgulhosa mesmo :)

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